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AVAC 4.0

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Conectividade, dados e inteligência são três palavras que estão a transformar os modelos de negócio de muitas indústrias. Na era digital, já não basta fabricar equipamentos, há que dotá-los de inteligência e, com isso, abre-se todo um novo negócio no serviço pós-venda. A indústria do AVAC não escapa a essa realidade.

A digitalização está a chegar a todas as esferas da nossa vida e isso afecta a forma como as empresas se posicionam no mercado. A indústria do AVAC não fica de fora e a maior transformação está a acontecer no início da cadeia de valor, onde as fabricantes procuram novas soluções para um mundo hiperconectado. A manutenção e o serviço pós-venda, com base na analítica de dados, impõem-se como novos modelos de negócio, para responder aos anseios de um cliente mais exigente e que está, agora, cada vez mais próximo do fabricante. Nesta convergência do mundo físico para o mundo digital, rapidez, agilidade, eficiência, a redução progressiva dos custos e alguma comodidade são argumentos a favor deste tsunami tecnológico que enfrentamos. Já não se trata apenas de estar conectado à rede e de fazer parte da Internet das Coisas, mas de sistemas que recolhem uma infinidade de dados, que os transformam em informação, criam padrões e aprendem por si. Cada um de nós, com mais ou menos resistência, vai aderindo, pesando os prós e contras, e acabando por “aceitar” os termos e condições deste admirável mundo novo, ainda impressionados com a capacidade das máquinas de aprenderem os nossos hábitos e de, por exemplo, adaptarem a temperatura ambiente da nossa casa, com base na informação meteorológica disponível e nas nossas rotinas.

Nesta nova fase, para as empresas, conectividade, dados e inteligência são conceitos que vão ditar os novos modelos de negócio e basta olhar para os gigantes industriais e ver o que está a acontecer. Veja-se o caso da GE – General Electric. Numa entrevista recente no programa GPS, na CNN, o CEO e presidente da GE, Jeffrey Immelt, descreveu esta transformação: “[Assistimos ao] Fenómeno da sensorização, que recolhe continuamente dados de produtos industriais e que permite que estes sejam modelados com vista à produtividade. É explosivo e vem redefinir completamente o que significa ser uma empresa industrial. No caso de um motor de avião, estes podem ser rastreados, o desempenho pode ser monitorizado, conseguimos saber quando precisa de ser reparado, podemos prever tudo isto! Toda a gestão de negócio é feita de forma diferente”. A GE chama-lhe Industrial Internet, “uma tecnologia digital que permite a conexão de máquinas, dados e processos e que torna possível a criação de tecnologias inteligentes, manufactura inteligente e uma infra-estrutura urbana conectada”. Visa não só os processos de manufactura e produção dos equipamentos, incluídos na tão falada Indústria 4.0, mas também a forma como estes equipamentos operam. “Quando começámos, não sabia onde isto ia dar, mas agora, afirmo, esta é uma grande ideia. A questão é se somos bons o suficiente para a executar, mas isso é todo um outro conjunto de desafios e que tem a ver com as formas como vamos captar todo este novo e vasto mercado”, declarou o gestor ao canal norte-americano.

Construir uma relação bilateral

Numa adaptação da Internet das Coisas ao processo industrial, a PricewaterhouseCoopers (PwC), por sua vez, fala de Industrial Internet of Things (IIoT). A consultora alerta que, para vencer na era da IIoT, é preciso muito mais do que implementar tecnologias para a conectividade. “Na verdade, o fenómeno da IIoT marca uma disrupção empresarial única num tempo de vida, exigindo novas capacidades nas relações directas com os clientes, apoiadas por modelos de operação e negócio alterados e concebidos especificamente para um mundo IIoT”, afirma.
Coincidência (ou não), para exemplificar tudo isto, a PwC vai buscar o exemplo de uma fabricante de equipamentos AVAC que adoptou a IIoT e equipou os seus aparelhos para o efeito. Desta forma, a empresa pode monitorizar e assegurar a manutenção dos equipamentos instalados nos edifícios, detectar fugas ou avarias eminentes e alertar os clientes para possíveis problemas. Mas, mesmo assim, a satisfação dos clientes continua a cair. Porquê? A explicação reside num lado mais perverso que todos estes novos serviços e funcionalidades também têm: a criação de um cliente cada vez mais exigente, cujas expectativas são, muitas vezes, desfasadas da realidade e que são, acima de tudo, voláteis. Adicionalmente, a consultora aponta também que este “novo” consumidor prefere o contacto directo com as fabricantes, anulando o papel do “intermediário”.
Dar resposta a tudo isto está a obrigar as empresas a passarem de uma oferta com base em produtos para uma oferta com base em serviços, através da criação de plataformas. Do lado operacional, para a fabricante, esta é uma oportunidade de desenvolver uma relação mais próxima com o utilizador final, “criando um grau de envolvimento e interacção mais directos com o cliente do que maior parte das empresas alguma vez fez”. Se parece fácil, a verdade é que esta viragem vai fazer tremer as fundações das fabricantes. De repente, uma empresa cuja estratégia foi, durante anos ou mesmo décadas, orientada para a engenharia e desenvolvimento do produto em si vê-se obrigada a encontrar novas abordagens para chegar ao cliente.

Uma nova forma de pensar. Um novo negócio!

O que isto significa para a indústria do AVAC? Significa que, para além de fabricar os equipamentos, as nossas empresas vão ter de passar a incorporar inteligência nos seus equipamentos, desenvolver plataformas capazes de analisar esses dados e, em cima dessa informação, criar serviços que respondam às necessidades do cliente, e que podem passar pela operação, manutenção, prevenção, etc., mas que vão muito além, criando um vínculo de proximidade com o cliente, no qual a gestão de expectativas não pode ser descurada. “Estamos a falar de máquinas ou equipamentos para o residencial e para grandes edifícios, e estamos a falar também de manutenção”, admite António Tadeu, coordenador de Investigação e Desenvolvimento (I&D) do ITeCons, exemplificando, “a detecção de falhas e intervenções directas já começam a ser feitas de forma remota e a própria empresa que fabrica fica, desta forma, com a capacidade de ter acesso a logs e a alertas que permitem verificar se o equipamento está a funcionar de forma correta e, em caso de necessidade, intervir de forma remota. Claro que a visita poderá ser necessária, mas o diagnóstico já poderá estar feito”.
Resultado, a manutenção já começa a ser entendida como uma fortíssima área de negócio do lado dos fabricantes. O investimento é já uma realidade. “Há, de facto, o negócio do fabrico e a tendência é a de alargar esse negócio para a manutenção, até pela dependência tecnológica que começa a existir. Os instaladores estão cada vez mais ligados a um menor número de marcas porque é exigida formação e qualificações específicas”, afirma. O especialista descreve o que acontece, por exemplo, com as caixilharias. “Quando fazemos o relatório, depois de todos os testes de durabilidade realizados, descrevemos todo o processo e incluímos as intervenções necessárias. No plano de vida daquela janela, as informações devem chegar detalhadas ao cliente”.
Entre os melhores exemplos para compreender este fenómeno está o sector automóvel. “Os carros começaram a ser vendidos com planos de manutenção e as pessoas passaram a estar obrigadas a ir à marca”, refere António Tadeu. E, se pensarmos bem num carro, aquilo que, há uns anos, se tratava essencialmente de hardware – uma máquina – está progressivamente a dizer cada vez mais respeito a software, o que significa que, muito em breve, grande parte dessa manutenção será feita a partir de uma simples actualização de software. “Tal como os nossos telemóveis, que fazem as actualizações quase automáticas, estou a ver num curto prazo de tempo que outros sistemas também o possam fazer”, antevê.
Mais uma vez, a oportunidade, aqui, é a de criar uma relação que pode ir, literalmente, do berço à sepultura do equipamento, através de novos moldes de contratos de serviços em tempo real. O desafio, esse, não é exclusivo da indústria do AVAC e passa por adaptar toda uma estrutura e cultura de negócio a uma visão mais holística que inclua a operação e serviço pós-venda, incorporar as novas competências ligadas às novas tecnologias e aprender a lidar directamente com o cliente final. A maior mudança poderá estar na relação entre os vários players do AVAC. Esta ligação cada vez mais acentuada entre fabricante e cliente final poderá alterar por completo o negócio. Uma realidade que já se tem vindo a fazer sentir nos últimos anos e que poderá aqui definir-se por completo.

Eficiência energética: o todo é maior do que a soma das partes

A par dos novos modelos de negócio e para além de melhorar e facilitar a experiência do utilizador, a introdução de tecnologias de informação e comunicação (TIC) traz também consigo a promessa da optimização do uso de energia. “A procura da eficiência energética pode explorar duas direcções: continuar a apostar na melhoria desempenho da própria máquina, mas também na optimização do seu padrão de funcionamento”, explica Nuno Simões, um dos responsáveis pela supervisão técnica e científica do ITeCons. Esta capacidade de aprendizagem e adaptação dos equipamentos aos perfis dos utilizadores e às circunstâncias permite um melhor desempenho, utilizando o mínimo de energia possível, evitando o desperdício. Para além disso, o cruzamento com dados como as previsões meteorológicas, por exemplo, pode ajudar os sistemas a tirar o máximo partido da integração com as fontes de energias renováveis.
Haverá ainda margem para progredir em termos de eficiência? António Tadeu está seguro que sim, até porque, com toda esta disrupção tecnológica, urge uma nova forma de olhar os equipamentos e para os edifícios – “Verificamos que, neste momento, aquilo que se está a passar, em termos de tendência, é que os equipamentos são uma peça que precisa de ser integrada dentro de um puzzle. As questões que se prendem com a gestão integral do edifício, em termos de automação e controlo, acabam por passar não apenas pelos equipamentos, mas pelo comportamento global do edifício. Acabamos por não ter apenas um sistema, mas um conjunto sistemas, compostos por vários equipamentos e sensores que actuam no edifício em função da leitura que fazem de um conjunto de dados obtidos no momento”. Seguindo este caminho, para os especialistas, o destino será o controlo centralizado e autónomo do edifício. Um edifício vivo em que todos os sistemas e equipamentos interagem entre si, connosco e com o exterior no sentido da optimização energética.
Apesar de tudo isto, há uma regra básica que também se aplica aqui – KISS. Ou, por outras palavras, “keep it simple stupid”. Em matéria de eficiência energética, há que distinguir em que medida esta componente dita smart o é verdadeiramente, ou se nos estamos a deixar levar pelo entusiasmo do progresso. “Tem-se investido na área da domótica dos edifícios, o que agrada muito às pessoas, mas que muitas vezes cai em desuso muito rapidamente”, esclarece Nuno Simões. “Esta pressão de obter níveis de inovação extremamente elevados – pôr as paredes ou as janelas ‘a falar’ e a fazer tudo e mais alguma coisa – tem o risco de poder conduzir a algum desinvestimento naquilo que sãos as características essenciais e estruturais. É preciso estarmos atentos”, até porque “a questão da inteligência das coisas passa também por deixá-las simples e funcionais”, exclama.

Ritmos diferentes

Paralelamente, é também importante ter em consideração que o ritmo da evolução tecnológica é bem diferente da realidade e que nos falta ainda um passo largo para tornar tudo isto banal. Um estudo recente do Buildings Performance Institute Europe (BPIE) mostra que nenhum dos 28 Estados-Membros está pronto para a “revolução smart” do seu parque edificado, havendo apenas quatro – Suécia, Finlândia, Dinamarca e Holanda – que tomam a dianteira com algumas medidas implementadas. Para chegar a estas conclusões, a análise teve como base 15 indicadores: a envolvente dos edifícios, o consumo de energia final, a capacidade de aquecer ou arrefecer as casas de forma adequada, ambiente saudável para viver e trabalhar, disseminação de contadores inteligentes, conectividade, dinâmica de preços, flexibilidade do mercado, demand response, armazenamento de energia, veículos eléctricos, energias renováveis, energia solar fotovoltaica, bombas de calor, redes de aquecimento urbano.
A análise revela que a maior parte dos países mostra “pouco progresso” na abertura do mercado a sistemas de demand response ou ao encorajamento da penetração de sistemas com capacidade de armazenamento de energia nos edifícios. Portugal, por sua vez, está no fim da linha, no grupo dos “slow-starters”, e não é o único, com a companhia da Bélgica, Bulgária, Chipre e Hungria. Olhando ainda para os outros Estados-Membros, Alemanha, Áustria, Irlanda, Itália, Estónia, França e Reino Unido são os países “seguidores”, enquanto os restantes foram avaliados como “cautious adopters” [de adopção cautelosa].
O que está a atrasar esta evolução smart nos edifícios europeus? O relatório aponta como uma das razões o facto de não haver ainda infra-estruturas inteligentes, como a fraca adopção de contadores inteligentes. “Apesar dos vários exemplos bons e de algumas medidas legislativas nacionais progressivas que abrem caminho a um parque edificado mais inteligente, a actual legislação europeia carece de alavancas suficientemente ambiciosas para incentivar o desenvolvimento de edifícios inteligentes”, reconhece o relatório, acrescentando que a fase de revisão legislativa a nível europeu que se aproxima é uma “boa oportunidade para dar passos em frente significativos e reconhecer o papel dos edifícios no sistema de energia”. A regulamentação comunitária pode dar uma ajuda nessa matéria e o momento é oportuno para o efeito. Em Bruxelas, há, pelo menos, uma medida pensada para atenuar este cenário. A proposta de revisão da Directiva para o Desempenho Energético dos Edifícios prevê a criação de um indicador smartness no futuro próximo, que irá avaliar a capacidade tecnológica dos edifícios para interagir com os seus ocupantes e com a rede e ainda para gerir o seu desempenho de forma eficiente.

Conectividade, dados e inteligência são três palavras que estão a transformar os modelos de negócio de muitas indústrias. Na era digital, já não basta fabricar equipamentos, há que dotá-los de inteligência e, com isso, abre-se todo um novo negócio no serviço pós-venda. A indústria do AVAC não escapa a essa realidade.

A digitalização está a chegar a todas as esferas da nossa vida e isso afecta a forma como as empresas se posicionam no mercado. A indústria do AVAC não fica de fora e a maior transformação está a acontecer no início da cadeia de valor, onde as fabricantes procuram novas soluções para um mundo hiperconectado. A manutenção e o serviço pós-venda, com base na analítica de dados, impõem-se como novos modelos de negócio, para responder aos anseios de um cliente mais exigente e que está, agora, cada vez mais próximo do fabricante. Nesta convergência do mundo físico para o mundo digital, rapidez, agilidade, eficiência, a redução progressiva dos custos e alguma comodidade são argumentos a favor deste tsunami tecnológico que enfrentamos. Já não se trata apenas de estar conectado à rede e de fazer parte da Internet das Coisas, mas de sistemas que recolhem uma infinidade de dados, que os transformam em informação, criam padrões e aprendem por si. Cada um de nós, com mais ou menos resistência, vai aderindo, pesando os prós e contras, e acabando por “aceitar” os termos e condições deste admirável mundo novo, ainda impressionados com a capacidade das máquinas de aprenderem os nossos hábitos e de, por exemplo, adaptarem a temperatura ambiente da nossa casa, com base na informação meteorológica disponível e nas nossas rotinas.

Nesta nova fase, para as empresas, conectividade, dados e inteligência são conceitos que vão ditar os novos modelos de negócio e basta olhar para os gigantes industriais e ver o que está a acontecer. Veja-se o caso da GE – General Electric. Numa entrevista recente no programa GPS, na CNN, o CEO e presidente da GE, Jeffrey Immelt, descreveu esta transformação: “[Assistimos ao] Fenómeno da sensorização, que recolhe continuamente dados de produtos industriais e que permite que estes sejam modelados com vista à produtividade. É explosivo e vem redefinir completamente o que significa ser uma empresa industrial. No caso de um motor de avião, estes podem ser rastreados, o desempenho pode ser monitorizado, conseguimos saber quando precisa de ser reparado, podemos prever tudo isto! Toda a gestão de negócio é feita de forma diferente”. A GE chama-lhe Industrial Internet, “uma tecnologia digital que permite a conexão de máquinas, dados e processos e que torna possível a criação de tecnologias inteligentes, manufactura inteligente e uma infra-estrutura urbana conectada”. Visa não só os processos de manufactura e produção dos equipamentos, incluídos na tão falada Indústria 4.0, mas também a forma como estes equipamentos operam. “Quando começámos, não sabia onde isto ia dar, mas agora, afirmo, esta é uma grande ideia. A questão é se somos bons o suficiente para a executar, mas isso é todo um outro conjunto de desafios e que tem a ver com as formas como vamos captar todo este novo e vasto mercado”, declarou o gestor ao canal norte-americano.

Construir uma relação bilateral

Numa adaptação da Internet das Coisas ao processo industrial, a PricewaterhouseCoopers (PwC), por sua vez, fala de Industrial Internet of Things (IIoT). A consultora alerta que, para vencer na era da IIoT, é preciso muito mais do que implementar tecnologias para a conectividade. “Na verdade, o fenómeno da IIoT marca uma disrupção empresarial única num tempo de vida, exigindo novas capacidades nas relações directas com os clientes, apoiadas por modelos de operação e negócio alterados e concebidos especificamente para um mundo IIoT”, afirma.
Coincidência (ou não), para exemplificar tudo isto, a PwC vai buscar o exemplo de uma fabricante de equipamentos AVAC que adoptou a IIoT e equipou os seus aparelhos para o efeito. Desta forma, a empresa pode monitorizar e assegurar a manutenção dos equipamentos instalados nos edifícios, detectar fugas ou avarias eminentes e alertar os clientes para possíveis problemas. Mas, mesmo assim, a satisfação dos clientes continua a cair. Porquê? A explicação reside num lado mais perverso que todos estes novos serviços e funcionalidades também têm: a criação de um cliente cada vez mais exigente, cujas expectativas são, muitas vezes, desfasadas da realidade e que são, acima de tudo, voláteis. Adicionalmente, a consultora aponta também que este “novo” consumidor prefere o contacto directo com as fabricantes, anulando o papel do “intermediário”.
Dar resposta a tudo isto está a obrigar as empresas a passarem de uma oferta com base em produtos para uma oferta com base em serviços, através da criação de plataformas. Do lado operacional, para a fabricante, esta é uma oportunidade de desenvolver uma relação mais próxima com o utilizador final, “criando um grau de envolvimento e interacção mais directos com o cliente do que maior parte das empresas alguma vez fez”. Se parece fácil, a verdade é que esta viragem vai fazer tremer as fundações das fabricantes. De repente, uma empresa cuja estratégia foi, durante anos ou mesmo décadas, orientada para a engenharia e desenvolvimento do produto em si vê-se obrigada a encontrar novas abordagens para chegar ao cliente.

Uma nova forma de pensar. Um novo negócio!

O que isto significa para a indústria do AVAC? Significa que, para além de fabricar os equipamentos, as nossas empresas vão ter de passar a incorporar inteligência nos seus equipamentos, desenvolver plataformas capazes de analisar esses dados e, em cima dessa informação, criar serviços que respondam às necessidades do cliente, e que podem passar pela operação, manutenção, prevenção, etc., mas que vão muito além, criando um vínculo de proximidade com o cliente, no qual a gestão de expectativas não pode ser descurada. “Estamos a falar de máquinas ou equipamentos para o residencial e para grandes edifícios, e estamos a falar também de manutenção”, admite António Tadeu, coordenador de Investigação e Desenvolvimento (I&D) do ITeCons, exemplificando, “a detecção de falhas e intervenções directas já começam a ser feitas de forma remota e a própria empresa que fabrica fica, desta forma, com a capacidade de ter acesso a logs e a alertas que permitem verificar se o equipamento está a funcionar de forma correta e, em caso de necessidade, intervir de forma remota. Claro que a visita poderá ser necessária, mas o diagnóstico já poderá estar feito”.
Resultado, a manutenção já começa a ser entendida como uma fortíssima área de negócio do lado dos fabricantes. O investimento é já uma realidade. “Há, de facto, o negócio do fabrico e a tendência é a de alargar esse negócio para a manutenção, até pela dependência tecnológica que começa a existir. Os instaladores estão cada vez mais ligados a um menor número de marcas porque é exigida formação e qualificações específicas”, afirma. O especialista descreve o que acontece, por exemplo, com as caixilharias. “Quando fazemos o relatório, depois de todos os testes de durabilidade realizados, descrevemos todo o processo e incluímos as intervenções necessárias. No plano de vida daquela janela, as informações devem chegar detalhadas ao cliente”.
Entre os melhores exemplos para compreender este fenómeno está o sector automóvel. “Os carros começaram a ser vendidos com planos de manutenção e as pessoas passaram a estar obrigadas a ir à marca”, refere António Tadeu. E, se pensarmos bem num carro, aquilo que, há uns anos, se tratava essencialmente de hardware – uma máquina – está progressivamente a dizer cada vez mais respeito a software, o que significa que, muito em breve, grande parte dessa manutenção será feita a partir de uma simples actualização de software. “Tal como os nossos telemóveis, que fazem as actualizações quase automáticas, estou a ver num curto prazo de tempo que outros sistemas também o possam fazer”, antevê.
Mais uma vez, a oportunidade, aqui, é a de criar uma relação que pode ir, literalmente, do berço à sepultura do equipamento, através de novos moldes de contratos de serviços em tempo real. O desafio, esse, não é exclusivo da indústria do AVAC e passa por adaptar toda uma estrutura e cultura de negócio a uma visão mais holística que inclua a operação e serviço pós-venda, incorporar as novas competências ligadas às novas tecnologias e aprender a lidar directamente com o cliente final. A maior mudança poderá estar na relação entre os vários players do AVAC. Esta ligação cada vez mais acentuada entre fabricante e cliente final poderá alterar por completo o negócio. Uma realidade que já se tem vindo a fazer sentir nos últimos anos e que poderá aqui definir-se por completo.

Eficiência energética: o todo é maior do que a soma das partes

A par dos novos modelos de negócio e para além de melhorar e facilitar a experiência do utilizador, a introdução de tecnologias de informação e comunicação (TIC) traz também consigo a promessa da optimização do uso de energia. “A procura da eficiência energética pode explorar duas direcções: continuar a apostar na melhoria desempenho da própria máquina, mas também na optimização do seu padrão de funcionamento”, explica Nuno Simões, um dos responsáveis pela supervisão técnica e científica do ITeCons. Esta capacidade de aprendizagem e adaptação dos equipamentos aos perfis dos utilizadores e às circunstâncias permite um melhor desempenho, utilizando o mínimo de energia possível, evitando o desperdício. Para além disso, o cruzamento com dados como as previsões meteorológicas, por exemplo, pode ajudar os sistemas a tirar o máximo partido da integração com as fontes de energias renováveis.
Haverá ainda margem para progredir em termos de eficiência? António Tadeu está seguro que sim, até porque, com toda esta disrupção tecnológica, urge uma nova forma de olhar os equipamentos e para os edifícios – “Verificamos que, neste momento, aquilo que se está a passar, em termos de tendência, é que os equipamentos são uma peça que precisa de ser integrada dentro de um puzzle. As questões que se prendem com a gestão integral do edifício, em termos de automação e controlo, acabam por passar não apenas pelos equipamentos, mas pelo comportamento global do edifício. Acabamos por não ter apenas um sistema, mas um conjunto sistemas, compostos por vários equipamentos e sensores que actuam no edifício em função da leitura que fazem de um conjunto de dados obtidos no momento”. Seguindo este caminho, para os especialistas, o destino será o controlo centralizado e autónomo do edifício. Um edifício vivo em que todos os sistemas e equipamentos interagem entre si, connosco e com o exterior no sentido da optimização energética.
Apesar de tudo isto, há uma regra básica que também se aplica aqui – KISS. Ou, por outras palavras, “keep it simple stupid”. Em matéria de eficiência energética, há que distinguir em que medida esta componente dita smart o é verdadeiramente, ou se nos estamos a deixar levar pelo entusiasmo do progresso. “Tem-se investido na área da domótica dos edifícios, o que agrada muito às pessoas, mas que muitas vezes cai em desuso muito rapidamente”, esclarece Nuno Simões. “Esta pressão de obter níveis de inovação extremamente elevados – pôr as paredes ou as janelas ‘a falar’ e a fazer tudo e mais alguma coisa – tem o risco de poder conduzir a algum desinvestimento naquilo que sãos as características essenciais e estruturais. É preciso estarmos atentos”, até porque “a questão da inteligência das coisas passa também por deixá-las simples e funcionais”, exclama.

Ritmos diferentes

Paralelamente, é também importante ter em consideração que o ritmo da evolução tecnológica é bem diferente da realidade e que nos falta ainda um passo largo para tornar tudo isto banal. Um estudo recente do Buildings Performance Institute Europe (BPIE) mostra que nenhum dos 28 Estados-Membros está pronto para a “revolução smart” do seu parque edificado, havendo apenas quatro – Suécia, Finlândia, Dinamarca e Holanda – que tomam a dianteira com algumas medidas implementadas. Para chegar a estas conclusões, a análise teve como base 15 indicadores: a envolvente dos edifícios, o consumo de energia final, a capacidade de aquecer ou arrefecer as casas de forma adequada, ambiente saudável para viver e trabalhar, disseminação de contadores inteligentes, conectividade, dinâmica de preços, flexibilidade do mercado, demand response, armazenamento de energia, veículos eléctricos, energias renováveis, energia solar fotovoltaica, bombas de calor, redes de aquecimento urbano.
A análise revela que a maior parte dos países mostra “pouco progresso” na abertura do mercado a sistemas de demand response ou ao encorajamento da penetração de sistemas com capacidade de armazenamento de energia nos edifícios. Portugal, por sua vez, está no fim da linha, no grupo dos “slow-starters”, e não é o único, com a companhia da Bélgica, Bulgária, Chipre e Hungria. Olhando ainda para os outros Estados-Membros, Alemanha, Áustria, Irlanda, Itália, Estónia, França e Reino Unido são os países “seguidores”, enquanto os restantes foram avaliados como “cautious adopters” [de adopção cautelosa].
O que está a atrasar esta evolução smart nos edifícios europeus? O relatório aponta como uma das razões o facto de não haver ainda infra-estruturas inteligentes, como a fraca adopção de contadores inteligentes. “Apesar dos vários exemplos bons e de algumas medidas legislativas nacionais progressivas que abrem caminho a um parque edificado mais inteligente, a actual legislação europeia carece de alavancas suficientemente ambiciosas para incentivar o desenvolvimento de edifícios inteligentes”, reconhece o relatório, acrescentando que a fase de revisão legislativa a nível europeu que se aproxima é uma “boa oportunidade para dar passos em frente significativos e reconhecer o papel dos edifícios no sistema de energia”. A regulamentação comunitária pode dar uma ajuda nessa matéria e o momento é oportuno para o efeito. Em Bruxelas, há, pelo menos, uma medida pensada para atenuar este cenário. A proposta de revisão da Directiva para o Desempenho Energético dos Edifícios prevê a criação de um indicador smartness no futuro próximo, que irá avaliar a capacidade tecnológica dos edifícios para interagir com os seus ocupantes e com a rede e ainda para gerir o seu desempenho de forma eficiente.

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